Outro dia, vivi uma daquelas cenas que parecem pequenas, mas que ficam rondando a mente por dias.
Estávamos em uma reunião com uma equipe de marketing. De um lado, um profissional seguro, técnico, experiente — daqueles que você ouve e sente firmeza. Do outro lado da linha, o cliente era quase um grito de entusiasmo:
“Vamos! Crie! Use o meu dinheiro! Quero testar, quero aparecer, quero crescer!”
E ali, no meio daquela animação… silêncio.
Ou pior: hesitação.
O mais preparado da sala parecia travado. Não por falta de conhecimento, mas por excesso dele.
Como se cada dado acumulado, cada teoria aprendida, cada case vivenciado fosse um tijolo a mais na muralha que impedia o próximo passo.
Epicteto dizia que não é o que nos acontece que nos fere, mas o julgamento que fazemos sobre o que nos acontece.
E se trocássemos “acontece” por “sabemos”?
Não é o que sabemos que nos impede.
É o julgamento que fazemos sobre quando e como usar aquilo que sabemos.
Conhecimento pode ser ponte ou prisão.
Experiência pode acelerar ou frear.
E, às vezes, o freio vem camuflado de responsabilidade. Mas no fundo, é só medo. Medo de errar. Medo de perder o controle. Medo de parecer ousado demais.
Existe uma vaidade sutil em parecer cauteloso.
Aquela frase de segurança: “Já vi isso antes… não é bem assim… é melhor esperar.”.
Mas o cliente já decidiu. Ele quer avançar. Quer tentar. Quer correr risco.
E nós, com nossas planilhas, métodos e camadas de análise, viramos o obstáculo. Não por prudência, mas por arrogância disfarçada de prudência. E ali, o conhecimento vira um luxo inútil. Algo que só serve para blindar o ego — não para gerar resultado.
Sêneca nos lembra: “Enquanto hesitamos, a vida passa.”. No mercado, a lógica é parecida: enquanto hesitamos, alguém lança. Enquanto revisamos a estratégia pela quinta vez, alguém já colheu os frutos da primeira versão. Enquanto calculamos o risco, a janela de oportunidade se fecha com vento.
Estratégia boa é aquela que sai da planilha e pisa no chão. Mesmo com incertezas. Mesmo com riscos. Mesmo sabendo que, no começo, talvez não esteja perfeita.
Porque a “perfeição”, no mundo real, é filha da prática — não da teoria.
A maturidade está em saber que, às vezes, o melhor que podemos fazer com nosso conhecimento… é deixá-lo de lado por um momento.
A sabedoria não mora apenas no saber — mas na ação corajosa que o saber inspira. No teste que valida a teoria. Na tentativa que abre caminho. No movimento que transforma.
Se você é líder, mentor, consultor — ou tudo isso junto — lembre-se: Conhecimento que não age é só vaidade intelectual.
A ponte entre a ideia e o resultado se constrói com a coragem de começar.
E às vezes, tudo o que o mercado precisa é de alguém que se atreva a atravessar primeiro.